Quando falamos sobre o lugar que o filho surdo ocupa no simbólico dos pais, em muitos casos, nos deparamos com o lugar do deficiente. Colocar o filho nesse lugar da deficiência acarreta a manutenção de uma relação onde mãe e filho não se separam, ficando presos numa relação sufocante que aliena a ambos. É uma relação onde mãe e filho não conseguem avançar, ficando envolvidos nas impossibilidades e carências que a surdez suscita. Nesse tipo de relação o Outro – representado pela mãe - está sempre presente, interpretando o que o filho diz, dando-lhe comida na boca, chegando a situações graves onde a separação não se dá nem para dormir. O filho chega à adolescência ou a vida adulta, com dificuldades em realizar tarefas básicas como: ir ao banheiro, alimentar-se, cuidar da higiene pessoal, transporte. Essa relação de dependência não é somente a dependência do surdo para com a sua mãe, mas também uma relação de dependência dos pais para com o filho surdo. Ou seja, os pais necessitam se ocupar do filho ‘deficiente’ por dificuldades deles e não devido à surdez do filho. Esta é apenas uma desculpa para a atitude de zelo absoluto sobre o filho. É por isso que, em muitos casos, encontramos uma resistência por parte dos pais de se separar do filho, incentivá-lo a ser independente... A justificativa dos pais para a manutenção da dependência é de que tentam ensinar o filho, mas que ele não aprendeu. Para o surdo sair desse lugar de dependência total ao Outro, para sair dessa relação alienante precisa se separar dessa mãe que faz tudo por ele, que não permite que ele possa fazer por si mesmo. E, a mãe precisa deixar o filho ir, compreender que o filho não pode ficar no lugar daquele que a completa, como se fossem um só.