Para exemplificar essa situação, Sacks cita uma carta recebida da mãe de um surdo, ao receber o diagnóstico de surdez de seu filho aos cinco meses de idade devido à meningite. Recorta o seguinte trecho: “(...) isso significa que da noite para o dia ele subitamente se tornou um estranho para nós, que de algum modo ele não nos pertence mais, e sim ao mundo dos surdos? Que ele agora é parte da comunidade surda, que não temos direito sobre ele?” (p.131). O autor conclui que esse medo de que o filho surdo venha a tornar-se um estranho para os pais e de que será ‘roubado’ pela comunidade dos surdos, é expresso por um grande número de pais de crianças surdas. Em conseqüência desse medo de perder os filhos para os surdos, os pais privam os filhos do contato com a comunidade surda e com a língua de sinais, possibilitando-lhes somente o contato com a língua e cultura ouvinte. Outro aspecto apontado pelo autor é a promoção da diferença na família. Esta diferença é marcada pela surdez do filho e provoca um sentimento de estranheza, tanto por parte dos pais quanto do filho surdo, fazendo com que o filho surdo pareça um estrangeiro dentro da própria família. A vivência desse sentimento de estranheza provoca um outro sentimento – o sentimento de ambivalência - expresso na forma como agem com o membro surdo, a saber: algumas vezes aceitando-o e buscando aprender a sua língua, outras o rejeitando, outras negando a surdez e exigindo que o filho surdo fale oralmente e outro superprotegendo-o.