O caso Kaspar Hauser indica que mesmo que os surdos sejam apresentados à língua de sinais tardiamente, eles conseguem adquiri-la, inclusive com rapidez, demonstrando que apresentam uma boa capacidade de percepção e de memória. Logo que um surdo chega à comunidade surda, os membros pertencentes àquela comunidade surda buscam estabelecer contato em língua de sinais para o mais novo membro, perguntando qual é o seu nome, de onde vem, onde está morando, quantos anos tem, se tem sinal próprio e outros questionamentos. Geralmente este [novo membro] não conhece a língua de sinais e, portanto não compreende o que os outros surdos estão lhe perguntando. Para responder as perguntas acaba copiando os sinais que vê, demonstrando que não compreensão de que aquilo é um sinal, que faz parte de uma língua e que tem um significado. Sacks (2002, p.69) chama essa repetição de movimentos e sinais de ‘ecolalia mimética’ e diz que a mesma prossegue por um tempo, onde ainda não há noção alguma de que os sinais têm um ‘interior’, que possuem um significado. Quando o surdo desperta para os conceitos, os sinais deixam de ser apenas um movimento a ser copiado, para ser um sinal carregado de significado. Esse momento de compreensão leva o sujeito surdo a uma ‘explosão intelectual’, que possibilita uma noção de significado do mundo. Assim, o primeiro sinal abre a possibilidade de acesso a todos os outros sinais. Quando o surdo compreende o primeiro sinal que, em geral é o sinal próprio, entra no universo da língua que o nomeia e que nomeia todos os outros surdos, retirando-o da alienação subjetiva a que estava submetido. Com isso, há um despertar da vida psíquica, um nascimento para um modo de pensamento e de linguagem, depois de uma existência meramente perceptiva por anos.