Através da aquisição da língua de sinais os surdos tornam-se sujeitos falantes. Conseqüentemente um mundo de possibilidades se abre, possibilitando uma interação com o meio. A língua de sinais proporciona-lhes novas orientações e novas possibilidades de aprendizado e ação, dominando e transformando as experiências anteriores. Com isso, podem apropriar-se da esfera simbólica do passado e do futuro, saindo do presente, além de estabelecer diversas relações conceituais/hipotéticas que culminam na construção de conceitos novos para si mesmos e na reestruturação dos antigos. Também, podem se nomear e nomear as pessoas e objetos: enumerá-los, seriá-los, classificá-los, permitindo assim, uma estruturação e um poder generalizante capaz de transformar suas relações com o mundo. Sacks (2002, p. 65) exemplifica essa situação ao comentar a respeito de Kaspar Hauser . Diz que esse despertar para o contato humano, para o mundo dos significantes compartilhados, da língua levou a um súbito e brilhante despertar de toda a sua mente e sua alma. Aconteceu uma tremenda expansão e florescimento da capacidade mental – tudo excitava sua admiração e prazer, havia uma curiosidade ilimitada e um interesse abrasador por tudo, um ‘caso de amor com o mundo’.
Kaspar Hauser (30 de Abril de 1812 – 17 de Dezembro de 1833) foi uma criança abandonada envolta em mistério, encontrada na Alemanha do século XIX,com alegadas ligações à família real de Baden. Ele passou os primeiros anos de sua vida aprisionado numa espécie de gruta, não tendo contato verbal com nenhuma outra pessoa, com isso, não havia adquirido uma língua. Foi encontrado com aproximadamente 15 anos de idade e logo lheensinaram as primeiras palavras. Quando começou a conviver em sociedade passou a desenvolver sua fala como uma criança. A sua exclusão social não o privou apenas da fala, mas de uma série de raciocínios e idéias, como por exemplo, o fato de Kaspar não conseguir diferenciar sonhos e realidade durante o período que passou aprisionado. Logo que foi deixado numa praça perante a população de Nuremberg, Kaspar contava apenas com uma carta endereçada a um capitão da cidade, explicando parte de sua história, um pequeno livro de orações, entre outras coisas que indicavam que ele provavelmente pertencia a uma família nobre. Pelo fato de ter vivido anos de solidão, Kaspar odiava comer carne e beber álcool, já que havia sido alimentado basicamente por pão e água; obteve um desenvolvimento do lado direito cérebro notadamente maior que o do esquerdo, o que teoricamente lhe proporcionou avanços consideráveis no campo da música. Sua história foi representado no filme, de Werner Herzog, chamado Jeder für sich und Gott gegen alle (literalmente, "Cada um por si e Deus contra todos"), de 1974, lançado no Brasil como "O Enigma de Kaspar Hauser". (Adaptação do texto da Wikipédia).