Se questionado sobre a sua vida consegue dizer poucas coisas baseadas nos gestos caseiros que conhece. Mas, provavelmente não sabe muito sobre si e sobre sua família, pois lhe faltam recursos de ter acesso a uma língua que lhe possibilitaria contar sua história. Também, muitos têm dificuldade de (se) contar no sentido matemático de fazer parte da cadeia genealógica, ou seja, de saber qual o lugar que ocupa na família e o lugar que é ocupado pelos outros membros. Às vezes, reconhecem apenas os lugares mais próximos como pai, mãe e irmãos e, desconhece os lugares como, bisavô (á) materno e paterno, avô (á) materno e paterno, tios materno e paterno, sobrinhos, cunhado (a)... Conversando com alguns surdos, eles contam que antes de ter contato com a língua de sinais, viam as pessoas chegando a sua casa, mas não sabiam quem eram, a importância que elas tinham para a família. Não sabiam o que era namorar ou casar, assistiam ao casamento dos irmãos, mas não compreendiam o sentido daquele ritual. Alguns associavam o casamento com filhos, pois o que viam era que após casar nasciam crianças. Crianças que sabiam que eram filhos de seus irmãos, mas que não tinham noção do nome que se dá a elas – sobrinhos. Assim, concluímos que os recursos que os surdos apresentam quando não tem contato com a língua de sinais limitam bastante a interação com a família e, portanto, com a possibilidade de identificação com seus pais, com os valores da família, com a cultura familiar. Levando em consideração as limitações descritas acima podemos nos perguntar: É possível haver alguma identificação do surdo que nunca teve contato com a língua de sinais com seus pais ouvintes e com a cultura de sua família ouvinte?