No interior de uma nação, “eles representam, pois, uma minoria lingüística”. O autor continua dizendo que para ser um cidadão da nação e fazer parte do ‘corpo político’ é impreterível ter um ‘corpo capaz’. Com isso, eliminam-se os “corpos deformados”, “surdos”, “amputados”, “obesos”, “femininos”, “aleijados”, “mutilados” e “cegos”. A pessoa com incapacitação não é vista como pertencendo à nação. Focando a questão na situação da surdez, essa idéia do ‘corpo incapaz’ propagou a incapacidade do surdo para utilizar a linguagem, reforçou um privilégio infundado do sistema auditivo/oral de comunicação, imputando ao surdo uma suposta deficiência lingüística que determinou uma visão das pessoas surdas como um grupo físico diferente, isto é, como se fossem uma “raça” diferente, culminando com a criação de um racismo da língua. Quando a conversa é gerada pelas mãos e recebidas pelos olhos a maioria das pessoas supõe que não se está lidando com a linguagem como tal. Podemos inferir que, essas idéias veiculadas amplamente no século XVIII e nos posteriores, estimularam o desenvolvimento das pesquisas patrocinadas pela medicina. Esta, envolvida no discurso dominante, visava a cura da surdez e a sua erradicação. Mas, apesar dos esforços, não teve êxito na descoberta da cura e propôs uma outra forma de intervenção – a reabilitação da fala – visando a correção da anormalidade para evitar a diferença. Os trabalhos de reabilitação foram amplamente divulgados e orientados pela medicina e pela pedagogia ortopédica’ . Com o avanço das descobertas eletroacústicas, a medicina e a pedagogia ‘ortopédica’ aliaram-se à tecnologia e passaram a indicar o uso de aparelhos auditivos como promessa de resgate da audição, reduzindo a surdez à audiologia. Paralelo, surge a psicologia que com seus estudos sobre o comportamento humano passa a desenvolver pesquisas sobre a surdez.