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psicologia da educação de surdos






Unidade 1 - A SURDEZ E SEUS ATRAVESSAMENTOS COM A PSICOLOGIA

1.1 A surdez e o paradigma clínico - um olhar que marca a deficiência

Ao fazermos um resgate histórico da psicologia e sua relação com o sujeito surdo nos deparamos com o movimento iluminista que, segundo Sanches (1990), marca o nascimento da construção científica da surdez. Se até então a surdez estava enlaçada num discurso místico-religioso da Antiguidade e da Idade média onde as narrativas acerca do surdo lhes conferiam um estatuto de ‘imbecilidade’, de ‘semi-animalesco’, de ‘não-humano’, passam [com o iluminismo] a compor o discurso médico que classificava e enquadrava os diferentes.
Sanches segue apontando que estudos clínicos sobre a normalidade e a loucura surgiram com o psiquiatra Philippe Pinel
ao introduzir o conceito de enfermidade aos loucos e aos ‘diferentes’. Os surdos passam a compor a categoria de ‘humanos’ ao serem enquadrados na classificação dos ‘diferentes’, porém ‘humanos enfermos’. Entendidos como doentes pela medicina, pela pedagogia e, mais tarde pela psicologia, foram catalogados pelo saber médico que conclui que eram uma ‘sub-espécie’, uma ‘anomalia’ que deveria ser erradicada.
Nesse período foram realizadas várias pesquisas sobre a surdez no intuito de descobrir as causas da mesma, visando seu tratamento e a sua cura. Moura (2000) relata as pesquisas do médico cirurgião Jean-Marc Itard que amparado pela construção do saber científico desenvolveu métodos como: dissecar cadáveres de surdos, aplicar cargas elétricas nos ouvidos dos surdos, usar sanguessugas para provocar sangramentos, furar as membranas timpânicas dos surdos, colocar cateteres nos ouvidos de pessoas com problemas auditivos, entre outros, que resultaram em fraturas de vários crânios, bem como, infecções nos ouvidos e morte.