Ao propor o rompimento com a idéia de que a linguagem depende da capacidade de falar ou escutar e com o fato de que a capacidade de falar/ouvir está bloqueada e impede que o cérebro humano processe outro canal de comunicação vinculado à organização viso-espacial, remete a construção de um olhar que afirma que os surdos podem adquirir e desenvolver eficientemente, uma comunicação simbólica através de uma língua tão legítima quanto qualquer das línguas orais: a língua de sinais. As discussões a partir do olhar das diferenças denunciam os equívocos na história dos surdos, desconstruindo conceitos herdados do iluminismo, calcados em verdades absolutas, universais, globalizadoras e classificatórias. Além disso, proporciona o resgate de uma dívida moral e científica para com a comunidade surda que, presa ao paradigma clínico, estigmatizou e marginalizou a comunidade surda. O surdo foi, conforme vimos, por décadas, classificado como incapacitado e jogado no território da medicina que o tornou ‘enfermo’, causando-lhe prejuízos sociais, educacionais, políticos, econômicos, lingüísticos e culturais graves. Graves pelo não reconhecimento de sua existência enquanto sujeito psíquico e sim pela sua redução a um par de orelhas ‘danificadas’ que necessitava de reabilitação. Sabemos que pelo fato de terem sido compreendidos como deficientes foram privados de sua língua, veículo fundamental para sobrevivência de um grupo social. A língua e cultura foram estigmatizadas ficando com um lugar marginal entre as diversas línguas e culturas. Também a condição de ser surdo foi marginalizada com a patologia da surdez.