Cercada de apoio em vários territórios teóricos como a antropologia, a sociologia, a lingüística e outros, a visão sócio-antropológica foi ganhando espaço. Entre eles, a psicologia, que sob este enfoque é remetida para a dimensão subjetiva possibilitando um trabalho de escuta do sujeito surdo e de sua comunidade. Essa escuta sobre o que o surdo e sua comunidade têm a dizer mostrou-se fundamental para se reconduzir as intervenções psicológicas, que passaram a levar em consideração a singularidade dos sujeitos e as peculiaridades lingüísticas e culturais do mesmo e de sua comunidade. O olhar para as diferenças parte do princípio de que ao nascer, o homem, é precedido pela linguagem e imerso em um mundo simbólico/cultural que fala dele, ou seja, diz quem ele é, os valores da comunidade a que pertence, situando-o. A língua que aprende, a maneira que se alimenta, o jeito que senta, que anda, que brinca... está codificado, ficando submetido a regras que dirigem seus movimentos. Essas regras são necessárias para ser possível o convívio em comunidade e vão se modificando com a criação de novas formas de viver, uma vez que o homem é dotado de inúmeras potencialidades que necessitam ser constantemente atualizadas para viver e sobreviver mediante o complexo processo evolutivo. A linguagem, então, perpassa esse complexo evolutivo e vem em sua origem como conseqüência da necessidade de transformar a natureza, através da cooperação entre os homens, por meio de atividades produtivas que garantam a sobrevivência do grupo social. Com ela foi possível ao homem agir, ampliando as dimensões de espaço e tempo. Produto de uma coletividade, a linguagem, reproduz através dos significados, das palavras e/ou sinais, valores associados a práticas sociais que se solidificaram. Dito de outro modo, a linguagem reproduz uma visão de mundo, produto das relações que se desenvolveram a partir do trabalho produtivo, para a sobrevivência do grupo social.