A surdez e suas representações: o impacto do olhar da deficiência para o sujeito surdo
Constatamos que ao longo da história da surdez as primeiras narrativas em relação aos surdos eram de caráter místico-religioso e, posteriormente, narrativas científicas. Estas, ao privilegiar o estudo do órgão (ouvido) e compreendê-lo como defeituoso/deficiente disseminaram a idéia da “incapacidade de ouvir”. A esta, ampliou-se para a incapacidade de compreender, de falar, de realizar trabalhos acadêmicos, de desempenhar atividades intelectuais e de socializar-se com as demais pessoas, entre outras. Desse modo, o termo deficiência abrangeu um efeito total sobre o indivíduo em todos os aspectos de sua vida. Essas narrativas levaram a uma representação social de incapacidade, de pessoas de classe inferior que teve reflexos graves tanto a nível individual quanto coletivo. Sob a alegação dos estudos científicos, das descobertas tecnológicas (aparelhos auditivos...) instituiu-se uma verdade tida como universal que teve reflexos profundos na comunidade surda marcando um massacre social, político, econômico, educativo, lingüístico e cultural dos surdos. Com a luta de alguns surdos que não sucumbiram a um processo de alienação (implícito na proposta do Congresso de Milão ao propor o desmantelamento das escolas de surdos) as comunidades surdas conseguiram sorrateiramente manter viva a língua de sinais e, com isso, garantir uma identidade, mesmo que em muito fragmentada de si e de seu grupo. Mas, apesar dessa luta, a cultura foi muito prejudicada. As proibições das manifestações culturais da comunidade surda pelos ouvintes que detinham o poder caracterizaram-se como um profundo desrespeito ao ser humano. Manifestações culturais como: teatro, piadas, brincadeiras... e manifestações intelectuais como: livros, encontros, etc.... foram violentamente atacadas. Como conseqüências encontraram pouquíssimas produções culturais/intelectuais de surdos.