Atualmente, a comunidade surda, através do resgate de sua cidadania, apresenta um reencontro com sua cultura e sua história, reescrevendo-a sobre seu olhar, reivindicando o direito legítimo de falar sobre si mesmo, visando romper com a descrição, classificação e o rótulo de comportamentos imputados a si e que a transformaram em incapacitada, arrancando-lhe o direito de viver em liberdade e de ter escolhas e possibilidades de futuro. Percebemos que a filosofia oralista veio, junto com a medicina, responder positivamente a representação social que negou a legitimidade da existência da comunidade surda ao introduzir a concepção da deficiência, expropriando o surdo de sua história, de seu corpo e de sua vida. Como conseqüência, houve a desestruturação da comunidade surda, fragmentando sua herança cultural comprometida pela proibição do uso de sinais e separação dos grupos de surdos. Lane (1992, p.85) aponta que essa repressão tão intensa da língua e da cultura surda imposta sobre os membros da comunidade surda acarretou na aceitação da representação da incapacidade por parte de alguns surdos que, em geral, ficaram isolados do convívio com seus iguais. O autor diz: Para o surdo que não teve a oportunidade de conviver com a comunidade surda encontra apenas diferenças na sociedade que vive e, marcado pelo discurso clínico da classificação nosológica, onde é nivelada igualmente nas categorias independente da raça, classe social, gênero.., encontra-se impossibilitado de construção subjetiva que leve em consideração sua singularidade e a construção de uma identidade que lhe possibilite o pertencimento a um grupo.