6.5 Ensino da datilologia Geralmente quando o ouvinte inicia a aprendizagem da LIBRAS há uma dedicação maior por parte do professor e do aluno em focar em atividades de soletração digital. Tenho observado (Gesser, 1999; 2006) que a datilologia, ainda que de difícil apreensão no início, funciona como um “coringa” nas mãos dos aprendizes, como por exemplo, na hora em que um ouvinte não fluente em sinais quer solicitar o sinal de uma palavra, ou explicar algo. É quase como uma “escrita no ar” em substituição do português escrito no papel. Ora, sabemos que a datilologia tem no repertório lingüístico do usuário da LIBRAS a função de soletrar nomes próprios ou palavras que não tenham sinais, por exemplo. Mas ela parece adquirir uma função primária e emergencial nos primeiros momentos da interação surdo-ouvinte.
Mas qual a relação dos ouvintes na expressão e compreensão da datilologia? No geral, esta atividade é bastante difícil para os ouvintes, e isto ocorre por algumas razões. Em primeiro lugar, o aluno iniciante está fazendo um movimento lingüístico “radical”, literalmente, da boca para as mãos – e neste processo um empenho cognitivo-motor enorme é empreendido. Não é fácil para quem nunca usou as mãos para se comunicar “articular” movimentos tão complexos e de forma habilidosa como fazem os surdos. Da mesma forma há um empreendimento focal altíssimo na decodificação do formato das mãos para a sua compreensão visual. Além disso, pode se observar uma diferença mesmo entre alunos iniciantes: alguns são mais habilidosos com as mãos e outro menos. O professor precisará contornar essas diferenças a fim de que todos tenham a oportunidade de aprender o alfabeto manual. Mas como trabalhar esta habilidade?