Neste cenário, financiamentos do governo americano são liberados e um novo projeto curricular é desenvolvido dentro de uma abordagem funcional, cuja ênfase está para a comunicação pautada em funções lingüísticas do tipo saudações, como fazer solicitações, como dar direcionamentos, etc. O projeto (“Sinalizando naturalmente”) foi desenvolvido na Califórnia e provou ser uma orientação tanto mais efetiva para a aprendizagem da dos ouvintes com uma forma de mostrar a complexidade da ASL. Inserem-se aí os postulados da abordagem comunicativa – ao se propor a prática de uso de linguagem em situações reais através do ensino das funções, e também cognitiva – ao se propor um foco em aspectos como pronúncia, marcações não-manuais, habilidades expressivas e receptivas... (Wilcox & Wilcox, 1997). Os professores surdos americanos têm sido encorajados a abordar o ensino comunicativamente, e no contexto de ensino da ASL, o caminho percorrido das abordagens e metodologias parece ter sido o mesmo: inicia-se em uma visão mais gramatical-estrutural para uma mais comunicativo-interativa. No Brasil a discussão é incipiente, mas pode-se destacar o projeto pioneiro coordenado por Tânia Felipe em 1993, intitulado “Metodologia do ensino de LIBRAS para ouvintes”, que resulta na formulação do livro LIBRAS em Contexto – Curso Básico. Embora no material não haja um esboço refletindo teoricamente as metodologias padrões de ensino de línguas e as possíveis transposições e/ou aplicações no contexto da LIBRAS, pode-se encontrar algumas orientações metodológicas postuladas pela equipe no capítulo Orientações para o aluno (Felipe, 2001a: 15) Vejamos o guia na íntegra.
Em conformidade com as idéias expostas, também há no capítulo Orientações para o instrutor/professor (Felipe, 2001b: 15) princípios pautados em como ensinar a LIBRAS Vejamos.
Para que o aluno alcance um nível razoável em seu desempenho comunicativo, precisará ter o desejo e oportunidade de se comunicar em LIBRAS, por isso as orientações metodológicas, abaixo, servirão dos seguintes princípios gerais que nortearão o ensino/aprendizagem desta língua: * Evite falar durante as aulas: devido ao fato de as línguas de sinais utilizarem o canal gestual-visual, muitos alunos ouvintes ficam tentados a falar em sua língua enquanto tentam formular uma palavra ou frase na língua que estão aprendendo. Esta atitude pode ocasionar um ruído na comunicação, ou seja, uma interferência mútua de códigos que prejudica o processo de aprendizagem de uma segunda língua já que cada uma tem sua própria estrutura. Tente “esquecer” sua língua oral-auditiva quando estiver formulando frases em LIBRAS. Um aprendizado de uma segunda língua pode ter o suporte da primeira para se compreender e comparar as gramáticas das duas línguas, mas quando se esta estruturando uma frase tente “pensar” em LIBRAS; * Use a escrita ou expressões corporais para se expressar: em um primeiro momento, devido ao fato de não se ter ainda um domínio da língua, o aluno, motivado por uma insegurança natural, é tentado a usar sua língua para perguntar ao professor ou aos seus colegas o que não consegue apreender de imediato. Uma alternativa, para evitar esta interferência, é a comunicação através da datilologia, da escrita, ou tentar a utilização de expressões corporal e facial a partir do contexto, recursos utilizados pelos próprios surdos ao se comunicarem com ouvintes, que não conseguem compreendê-los, quando se expressam oralmente, ou não sabem a língua de sinais. Tente sempre se expressar em LIBRAS, o professor entenderá sua comunicação e o induzira aos sinais que serão necessários para a situação comunicativa que deseja expressar; * Não tenha receio de errar: o erro não deve ser entendido com falha, mas como um processo de aprendizagem. Tenha segurança em si mesmo. Na comunicação sempre o erro está presente, mas o contexto ajuda a perceber a intenção comunicativa e o professor ou o colega poderá ajudar a encontrar a forma adequada para a situação. Pense na mensagem que se quer transmitir e não nas palavras isoladamente; * Desperte a atenção e memória visuais: como os falantes de línguas orais-auditivas desenvolvem geralmente mais atenção e memória auditivas, é necessário um esforço para o desenvolvimento da percepção visual do mundo – um olhar, uma expressão fácil, sutis mudanças na configuração das mãos são traços que podem alterar o sentido da mensagem; * Sempre fixe o olhar na face do emissor da mensagem: as línguas de sinais são articuladas em um espaço neutro à frente do emissor, mas como as expressões faciais e corporais podem especificar tipos de frases e expressões adverbiais, é preciso estar atento ao sentido dos sinais no contexto onde estão colocados. O importante é a frase e não o sinal isolado. É, também, considerado falta de educação o desviar o olhar durante a fala de alguém pois representa desinteresse no assunto; * Atente-se para tudo que está acontecendo durante a aula: preste atenção nas orientações e conversas do professor com outro aluno e nas atividades feitas pelos seus colegas de classe. Tudo é aprendizagem; * Demonstre envolvimento pelo que está sendo apresentado: através de aceno de cabeça, expressão facial e certos sinais, o receptor demonstra ao emissor da mensagem que está interessado, compreendendo e que este pode continuar sua fala (função fática da linguagem); * Comunique-se com seus colegas de classe, em LIBRAS, mesmo em horário extra-classe ou em outros contextos, assim pode-se sempre exercitar e apreender as vantagens de se saber uma língua de sinais em certas situações onde se quer falar a distancia, o som atrapalha ou mesmo a mensagem deve ser sigilosa; * Envolva-se com as comunidades surdas: como todo o aprendizado de língua, o envolvimento com a cultura e os usuários é importantíssimo, portanto, não basta ir às aulas e revê-las através da fita de vídeo, é preciso também buscar um convívio com os surdos para poder interagir em LIBRAS e, consequentemente, ter um melhor desempenho lingüístico.
Ensinar uma língua de sinais para ouvintes é tarefa difícil, por isso, certos princípios podem ser seguidos para
melhor ensino-aprendizado: a) Desperte em seus alunos a segurança em si mesmos, reduzindo ao máximo as correções quando eles estiverem
tentando se comunicar; b) Quando for fazer uma atividade individual, solicite primeiro aos alunos mais desinibidos ou aos que estão
demonstrando ter compreendido melhor a atividade; c) Estimule sempre a produção, incentivando o uso da LIBRAS em todas as situações mesmo fora da sala de aula; d) Faça sempre atividades que exercitem a visão; e) Nunca fale em português junto com a LIBRAS, porque como estas línguas são de modalidades diferentes, uma
pode interferir negativamente sobre a outra, já que uma necessita uma atenção auditiva e a outra, visual; f) Faça o aluno perceber que não deve anotar nas aulas porque isso desvia a atenção visual. A revisão das aulas
em casa poderá ser feita através do Livro do Estudante e da Fita que acompanha esse livro; g) Não faça o aluno repetir suas frases ou memorizar listas de palavras, coloque-o sempre em uma situação
comunicativa onde ele precisara usar um sinal ou uma frase. A tarefa do instrutor de língua é habilitar o aluno a
ser um bom usuário, isto é, a usar a língua que está aprendendo para poder se comunicar; h) Incentive seus alunos a participarem de atividades sócio-culturais realizadas nas comunidades surdas para
que possam se comunicar em língua de sinais brasileira.