Vimos que o conceito de diglossia foi desenvolvido e explicado em termos de identificar as funções das variedades: a alta era empregada para fins acadêmicos, religiosos, burocráticos enquanto que a variedade baixa em situações mais informais, como entre amigos, familiares, por exemplo. A própria nomenclatura alta e baixa já imprime valores de maior ou menor grau de prestígio lingüístico, não é mesmo?
Entretanto, o que era predominantemente aceito nos anos 70 e 80 durante os estudos sobre bilingüismo no campo da sociolingüística já não se enquadrava para explicar outros fenômenos que estavam presentes nos contextos multilíngües – estamos adentrando então em um segundo e importante momento, isto é, na segunda vertente sobre tais discussões. Fishman enxergou a limitação e propôs uma expansão conceitual, pois a distinção binária variedade alta/variedade baixa apagava a situação onde três ou mais línguas faziam parte de um repertório de uma dada comunidade de fala, impedindo de se enxergar os diferentes graus nas relações entre diversas línguas. E por que o conceito era limitado? Especialmente porque a visão compartilhada sobre o que se entendia por comunidades estava pautada em agrupamentos uniformes que compartilhariam valores lingüísticos e culturais comuns onde haveria uma relação harmônica nos fenômenos de contato lingüístico. Nela, as ações são vistas como previsíveis e os sujeitos estabeleceriam uma relação estável e sem conflitos nos usos das variedades.