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Linguistica Aplicada L8
Interações deste tipo são muito recorrentes nas salas de aula. No exemplo acima, o aluno está fazendo uso, na sua fala, da variedade que se sente mais à vontade para se expressar, e a professora o expõe a uma condição de “ignorância” ao dizer que ele não sabe falar português, ou seja, a professora se refere à norma culta do português. O estudo de Bortoni (1984, 1988) ilumina bem a questão, pois a sociolingüista faz um levantamento bem detalhado, focalizando usuários das variedades desprestigiadas dentro de um continuum lingüístico: de um lado a língua padrão e de outro as variedades usadas nas comunidades mais isoladas geograficamente. Mas o que devemos ficar atentos nesta discussão? Em primeiro lugar, é a constatação apontada pela pesquisadora Bortoni (op. cit.) nas suas investigações em que tais alunos demonstram dificuldades de aprendizagem quando inseridos em um contexto de sala de aula onde o(a) professor(a) recrimina os vários falares, as várias línguas. Essa dificuldade de aprendizagem se deve a uma distância/diferença entre a língua que eles (os alunos) trazem de casa e a língua com a qual se deparam na escola (língua padrão), porque as variedades lingüísticas dos alunos são vistas como “línguas não convencionais”, como “línguas corrompidas”. Daí que o entendimento dos fenômenos lingüísticos no ambiente escolar está imbricado com questões educacionais, se não queremos que diferenças lingüísticas e/ou estilos de comunicação entre professor e alunos sirvam de empecilhos para a compreensão mútua.