Enunciado, para Bakhtin, é a “unidade real da comunicação verbal” (1987: 293) É o uso concreto da língua, sendo que a comunicação só existe “na forma concreta dos enunciados”. O enunciado é, portanto, individual, mas realizado por um interlocutor considerado como social, no sentido de que é perpassado sempre por outras vozes. Isto nos leva à compreensão das demais características essenciais do enunciado apontadas por Bakhtin. Se o interlocutor é social, isto significa que seu enunciado (ou seu discurso, sua comunicação) sempre se dirige a alguém. A pessoa com quem nos comunicamos, por sua vez, é também um interlocutor, que responde ativamente, concordando, discordando, completando ou adaptando a interlocução do outro. Essa compreensão responsiva ativa, de que nos fala Bakhtin, difere radicalmente da concepção da lingüística tradicional, que considerava o diálogo como um processo de comunicação entre um locutor ativo e outro passivo. A linguagem não pode ser considerada apenas como a comunicação de um que comunica e outro que recebe, de forma mecânica, exata, como a gramática prescreve. Na verdade, as fronteiras do enunciado, tais como Bakhtin as compreende não se limitam ao fim de uma fala e início de outra, simplesmente. As fronteiras são traçadas por alternâncias entre os sujeitos enunciadores, e são delimitadas pela instância social e não apenas pelos fatos de ordem lingüística. Por alternância, podemos compreender que a nossa comunicação sempre depende da resposta do outro. É por isto que, muitas vezes, em aula de língua estrangeira, o aluno tem respostas “prontas”, através de frases (oração) preparadas e muitas vezes decoradas.