Ainda segundo Bakhtin, nós nos comunicamos por enunciados, balizados, por sua vez, pelos gêneros a que pertencem. A partir desta sua afirmação, é possível, a nosso ver, iniciar um trabalho de investigação teórica sobre a questão. Em seu livro intitulado “Estética da criação verbal” o filósofo afirma que “a utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da atividade humana.” (1987: 279) Essas esferas produzem “tipos relativamente estáveis de enunciados”, denominados gêneros. Vejamos a seguir algumas características básicas deste conceito. Por tipos Bakhtin compreende as condições históricas em que se inscreve a língua. Isto quer dizer que são estabelecidos pela situação de interação na qual estão inseridos, e sobre a qual exercem, por sua vez, uma forma de ação. Deste ponto de vista emerge a característica do gênero como “relativamente estável”, isto é, um gênero nasce e se instaura de acordo com as funções da comunicação. Sendo assim, é possível compreender a grande diversidade dos tipos de enunciados, pois a cada situação de interação social correspondem circunstâncias e locutores específicos, com sua individualidade e projetos próprios. A partir dessas constatações, Bakhtin vai classificar os gêneros discursivos entre primários e secundários. Os primários, segundo ele, são os que estão mais próximos da realidade cotidiana, tais como a conversa familiar, a conversa social, os relatos, as cartas pessoais, as ordens, ofícios e decretos da administração pública. Os gêneros secundários são os que se encontram mais ligados às ideologias sistematizadas, como os gêneros do discurso científico, político, jornalístico e também da literatura (ex.: romance e teatro). Aqui neste ponto consideramos importante fazer algumas considerações em torno do enunciado – e suas implicações para uma melhor compreensão dos gêneros do discurso.