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Linguistica Aplicada L8
A segunda corrente apontada é a que considera, ao contrário, o sujeito como alguém que “não controla nem a si mesmo, nem o outro, nem os efeitos de seu dizer”. (Veja-se, NÃO estamos querendo dizer, como na linguagem popular, “não se controla”, isto é, quando alguém é incapaz de controlar seus atos ou palavras, no caso de uma pessoa impulsiva). Compreender o sujeito como alguém que não controla o seu dizer, significa nos compreendermos como indivíduos que comunicam, mas que não podem controlar o que dizem – porque somos perpassados por toda uma cultura - nem o que o outro vai interpretar ou como vai reagir (só podemos fazer alguma previsão, não controlar pontualmente).
Que implicações têm, afinal, essas considerações acima, sobre a disciplina (ou a ciência) denominada Lingüística Aplicada? Coracini (2003) nos esclarece sobre as conseqüências de um e de outro posicionamento. No primeiro caso, tem-se a preocupação “com o aporte de soluções aos chamados problemas de sala de aula”. É assim que essa vertente pesquisa, por exemplo, “estratégias de ensino e aprendizagem, abordagens mais sistemáticas de gramática, de uso de linguagem para comunicação, dentre outros aspectos”. O problema é que tal corrente, apesar de declarar o contrário, privilegia, assim, a teoria sobre a prática, o que significa que seria primeiramente a ciência a declarar o melhor a fazer em sala de aula de língua (desfazendo-se, então, a busca, por parte desses mesmos lingüistas aplicados, de articulação teoria/prática).
No segundo caso, ao contrário, ao considerar-se o sujeito como “não-dono” do seu dizer, compreende-se a impossibilidade de uma aplicação direta e imediata da teoria sobre a prática. Sendo assim, os posicionamentos desta segunda perspectiva, problematizam a própria noção de problema, de aplicabilidade de teoria, cuja tendência ao solucionismo leva também ao reducionismo discussões fundamentais sobre a relação entre teoria e prática.