Maria José Coracini (2003) , na Introdução ao livro que organiza, intitulado “O Desejo da Teoria e a Contingência da Prática”, nos apresenta outra divisão sobre o campo da pesquisa em LA, fazendo uma crítica à pelo menos duas correntes salientes em pesquisas na área da Lingüística Aplicada. Resumiremos o que expõe a autora a propósito dessas duas correntes, para melhor compreendermos a Lingüística Aplicada como disciplina inserida no curso de Letras, de um modo geral. A primeira corrente, como ciência aplicada, tem sido a de servir-se da teoria da Lingüística para “solucionar” problemas da prática, isto é, da sala de aula de língua (materna e estrangeira), ou melhor, do ensino/aprendizagem de línguas. No entanto, como nos mostra Coracini (op. cit.), esta visão é reducionista no sentido de que aponta para “soluções” como verdades inquestionáveis, porque apoiadas na teoria. Assim, sem nos preocuparmos com uma definição pura e simples de Lingüística Aplicada (porque na área das ciências humanas não pode haver, pelo nosso entendimento, definições fixas e exatas), trataremos de ampliar nossos conhecimentos com base justamente no texto da autora mencionada. Essa corrente da Lingüística Aplicada se considera autorizada a prescrever melhores maneiras de se ensinar/aprender língua, porque se apóia em teorias as quais consideram inquestionáveis, porque “científicas”. Segundo a autora, tal posicionamento advém de uma concepção de linguagem como sistema - fixo e imutável - e de uma concepção de sujeito absolutamente capaz de “gerir os processos de ensino e aprendizagem”, porque racional e capaz de fazer “escolhas conscientes”.
Coracini, M. J. (2003). Língua Estrangeira e Língua Materna: Uma questão de sujeito e identidade. In M. J. Coracini (Org.), Identidade e Discurso. Unicamp: Argos.