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Aquisição da Língua de Sinais
Outra questão apresentada por Gesser se refere às variedades de Libras em contato. A relação com as variedades em sinais pode ser observada durante a aprendizagem dos alunos ouvintes. Enquanto o professor surdo, que é de São Paulo, utiliza em alguns momentos alguns sinais do Rio de Janeiro, também respeita as outras variedades em sinais trazidas para a sala de aula. Em vista de o material didático ter sido elaborado por surdos do Rio de Janeiro dá mais visibilidade e mais status à variedade carioca. Por outro lado, algumas alunas têm uma relação distinta com a diversidade lingüística da LIBRAS, considerando-a como erro. Conforme o contato com surdos e com sinais de diferentes localidades vai aumentando, mais natural fica a questão da diversidade lingüística em sinais para alguns ouvintes.

A autora aponta, também, a relação de aprendizagem dos ouvintes com a LIBRAS em contexto formal de ensino, enfatizando que a escolha de uma modalidade sobre a outra ocorre devido àquilo que é mais significativo no momento interacional para os participantes, já que outras questões, além do objetivo de aprender e ensinar, estão em jogo – o uso da português oral, por exemplo, é requerido nas interações nos primeiros encontros, uma vez que há significados e necessidades distintas: para o ouvinte, esse uso faz sentido porque a língua com que se depara é tão alheia à sua realidade que sente a necessidade da tradução dos sinais para a língua portuguesa. Já para o professor surdo, a tradução (ou presença de intérprete) vai além da perspectiva do ouvinte-aprendiz, pois diz respeito à luta que os surdos têm travado a vida toda para interagirem com os ouvintes. Então, ter um intérprete na sala de aula, contexto legitimado e reconhecido por todos, é uma forma de garantir que questões cruciais para o surdo sejam de fato disseminadas – questões de sua(s) língua(s), identidade(s) e cultura(s).