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Aquisição da Língua de Sinais
Gesser aborda também a questão da modalidade escrita, que aparece em vários momentos durante as aulas. Mas, esta se torna uma grande questão quando o uso (e o não uso) dessa atividade começa a apresentar desconfortos para o professor e para algumas alunas ouvintes. Como diz Gesser (p. 197) “o contato entre as culturas ouvintes e surdas acentua suas características e valores próprios: por um lado, uma cultura de tradição “oral” (surda); por outro, uma cultura de tradição grafocêntrica (ouvinte). Na análise, a autora mostra que a atividade da escrita cria uma tensão na interação, ora agredindo os padrões culturais do surdo – no momento em que as alunas ouvintes escrevem deixam de estabelecer contato visual –, ora gerando um mal-estar nas alunas, que atribuem à escrita um valor próprio à sua cultura. Nesses momentos de tensão, as alunas utilizam “estratégias” e “ficam com um olho no professor surdo e outro na caneta”.

Os resultados da análise apresentada por Gesser mostram que, ao se relacionarem com a LIBRAS em contexto formal de ensino e aprendizagem, os alunos ouvintes transitam pelas modalidades oral, escrita e de sinal em conformidade com o que é mais significativo no momento interacional: ora porque diferentes identidades estão sendo projetadas, manifestadas e construídas; ora porque diferenças culturais estão em jogo. Embora o professor e algumas alunas sejam usuários da língua portuguesa e da língua de sinais, há momentos de conflito no uso dessas duas línguas, bem como na relação distinta que cada participante estabelece com as variedades em sinais trazidas para a sala de aula.