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Aquisição da Língua de Sinais
Dos três anos em diante, as crianças começam a usar o sistema pronominal com referentes não presentes no contexto do discurso, mas ainda apresentam erros. Algumas crianças empilham os referentes não presentes em um único ponto do espaço. Petitto & Bellugi (1988) observaram que, de três anos a três anos e meio, as crianças usam a concordância verbal com referentes presentes. Entretanto, elas flexionam alguns verbos cuja flexão não é aceita nas línguas de sinais. Bellugi & Klima (1990) identificam essa flexão generalizada dos verbos nesse período como supergeneralizações, considerando esse fenômeno análogo a generalizações verbais como 'fazi', 'gosti' e ‘sabo’ na língua portuguesa. Meier (1980) detectou esse uso supergeneralizado observando que, nesse período, as crianças usam os verbos como pertencentes a uma única classe verbal na língua de sinais americana, a classe dos verbos com concordância, chamada por ele de verbos direcionais. Quando as crianças deixam de empilhar os referentes em um único ponto, elas estabelecem mais de um ponto no espaço, mas de forma inconsistente, pois não estabelecem associações entre o local e a referência, dificultando a concordância verbal.

Lillo-Martin (1986) discute alguns efeitos da modalidade espacial no processo de aquisição, principalmente no que se refere à iconicidade das línguas de sinais. De fato, alguns sinais e processos na ASL têm motivação icônica, apresentando alguma relação entre forma e significado, entre o referente e o referenciado. Lillo-Martin (2002), ao considerar essa discussão, analisa a seguinte questão: a modalidade de alguma forma facilita a aquisição da linguagem? Os estudos indicam que, apesar de haver uma aparente iconicidade nas línguas de sinais, a aquisição do sistema pronominal e a concordância verbal apresentam as mesmas características da aquisição dos mesmos aspectos lingüísticos nas línguas faladas, o que é ilustrado pelos estudos mencionados até o presente momento. Lillo-Martin cita a conclusão de Meier (1980) que diz que a modalidade não facilita a aquisição do sistema da concordância verbal. Assim, considerando o input natural que as crianças surdas analisadas nessas pesquisas apresentam, a aquisição da língua de sinais americana parece seguir um curso lingüisticamente similar ao desenvolvimento das línguas orais.