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Sociolinguistica_L8B8






6.5 A variação, a solidariedade e a identidade

Nos exemplos acima, podemos ver o poder da variação lingüística de marcar uma identidade. Essa identidade pode ser de um local, um gênero, uma etnia, ou qualquer outro grupo social.
Vista sob essa perspectiva, podemos entender que prestígio e poder econômico e político não são os únicos valores para os grupos e os indivíduos. Por isso, é impossível que o domínio de uma língua ou uma variedade sobre as outras seja total. Os grupos e os indivíduos têm a forte necessidade de estabelecer suas identidades independentemente do poder central, da lei, da norma social, da escola e das outras instituições. Uma excelente maneira de fazer isso é por meio da língua que eles usam.

Apesar dos esforços da escola e da sociedade de convencer as pessoas do valor de se usar a variedade padrão (para evitar o estigma e conseguir um emprego melhor, por exemplo), as pessoas continuam optando por usar variedades alternativas, gírias e jargões que anunciam para o mundo: "Eu sou deste grupo aqui!"
Com isso em mente, podemos rever as variedades que estudamos na Unidade 5. Se eu sou de uma região ou de uma classe social ou de uma etnia que fala um dialeto (ou socioleto ou etnoleto) estigmatizado e vou para a escola onde a variedade padrão é ensinada, não é só por causa dos valores pregados pela escola que eu vou me identificar com essa nova variedade a ponto de querer aprendê-la. Posso ter motivos mais fortes para não perder as ligações afetivas e culturais que me sustentam no meu grupo de origem. Para não perder minha identidade, posso até exagerar as diferenças, para deixar claro para o mundo que eu não pretendo jogar pelas regras oficiais, que tenho outras lealdades e outros compromissos.