Em várias ocasiões, falamos sobre o "poder" das variedades de mais prestígio. Quando os jovens, principalmente, percebem que uma língua ou uma variedade tem mais prestígio, eles podem preferir falar aquela língua ou variedade e deixar de falar a dos seus pais. Isso pode causar a morte de uma língua ou o desaparecimento de uma variedade, como já vimos. Mas isso nem sempre acontece. Em Nova York, vimos que as pessoas costumam não pronunciar o "r" (quando não precisam falar com cuidado) mesmo acreditando que o "correto" é pronunciá-lo. Essa situação tem se mantido estável por muito tempo. Se o inglês americano padrão tem tanto "poder", porque os nova-iorquinos continuam falando uma variedade não-padrão? Eles têm contato direto, diário, com o inglês padrão. Não é por falta de contato que eles não mudam.
Ou melhor, por que os afro-americanos continuam falando o etnoleto inglês vernáculo afro-americano? Se seu jeito de falar é estigmatizado (e eles sabem disso!), e se eles têm contato direto com o inglês padrão, porque eles não adquirem o inglês padrão, para ter todas as vantagens que isso supostamente vai trazer? É isso que as escolas pregam, mas não "pega". Por quê? Labov nos deu uma luz sobre essa questão. Ele estudou uma comunidade numa ilha no atlântico, no estado de Massachusetts, chamada Martha's Vineyard. É uma ilha que vivia em relativo isolamento da "civilização" do continente. Na fala da ilha, existia uma variação na pronúncia de duas vogais do inglês padrão: /aw/ e /ay/ (que, no português, são as vogais de "pau" e "pai"). Algumas pessoas nativas da ilha, em especial os pescadores, usavam uma pronúncia um pouco diferente (que seria próxima, no português, da pronúncia de "pâu" e "pâi" – se essas palavras existissem, claro!).