Labov começou a gravar pessoas de diferentes classes sociais em diferentes situações de interação, e depois transcrever as gravações e estudar os detalhes da produção (a performance). Com o uso de técnicas estatísticas, ele pôde mostrar que a variação na fala das pessoas não é caótica. Vamos ver um exemplo. Na cidade de Nova York, existe uma característica na pronúncia que não faz parte do inglês americano padrão. Em certas circunstâncias, os nova-iorquinos, ao invés de falar [kar] "car" (carro), vão falar [ka], sem o "r" final. Labov descobriu que a pronúncia do "r" variava de acordo com a classe social (as classes mais baixas falavam menos "r" e as classes mais altas falavam mais "r"). Isso mostra que as classes de mais prestígio – mais dinheiro e mais escolaridade – tendiam a aproximar a sua fala da fala do inglês americano padrão. Mas em Nova York, isso não é toda a história. Em outras cidades, o mesmo fenômeno pode ser só uma questão de classe (ou etnia). Em Nova York, não.
Labov gravava as mesmas pessoas usando a língua em diferentes situações: contando um caso pessoal, respondendo perguntas numa entrevista, lendo um texto escrito, e lendo listas de palavras. Como você pode ver, as atividades variavam numa escala das mais espontâneas às mais artificiais e "formais". E qual foi o resultado? As mesmas pessoas também variavam seu uso do "r" dependendo da situação de fala, independente da classe social. Quando a pessoa sentia que a atenção tinha que ser focada na língua (na leitura e nas listas, por exemplo), ela pronunciava mais o "r". Quando a fala era mais espontânea e focada na comunicação (durante a narrativa e a entrevista), pronunciava menos o "r". Tudo isso sem a menor consciência de que estava variando a sua fala.
Isso significa que uma pessoa podia acreditar que pronunciava a palavra car "corretamente": [kar], quando na verdade, sem saber, em muitas situações de comunicação descontraída, pronunciava [ka]. E ninguém ia perceber, porque todo mudo fazia a mesma coisa naquela comunidade lingüística.