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Sociolinguistica_L8B8






6.3 A variação vista sob o microscópio

Até agora falamos de variações que são "visíveis ao olho nu", ou seja, capazes de ser notadas por qualquer falante e que até são freqüentemente objetos de comentário e avaliação popular. Vamos ver agora que essas observações são apenas a ponta do iceberg da história das variações lingüísticas.
A partir dos anos 1960, o lingüista William Labov começou a mostrar outros fenômenos de variação que até então tinham passados despercebidos. Nunca é demais ressaltar a importância dessas pesquisas. A partir das pesquisas de Labov, foi possível começar a entender que a variação lingüística tem uma função fundamental na formação de grupos e de identidades, sem ninguém ter consciência disso.

Como é que Labov conseguiu descobrir esses outros níveis de variação? Como falei no começo da disciplina, a sociolingüística depende da tecnologia de gravação (e de transcrição). Antes de existirem gravadores de som (e hoje de vídeo), o estudo da variação era limitado às variantes que já estavam na consciência das pessoas, que elas já comentavam. Por que isso? Porque, curiosamente, as pessoas (nem os lingüistas, antes de terem um treino muito especial) ouvem (ou vêem) o que eles esperam ouvir (ou ver). O cérebro não é um gravador. A percepção é muito seletiva, e a memória é limitada. Com o gravador, é possível descobrir detalhes da fala espontânea que não tinham sido percebidos antes.