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Sociolinguistica_L8B8






3.3 Interferência

Só o fato de existirem duas línguas numa sociedade não é motivo para que as duas línguas se modifiquem, uma por influência da outra. Mas é verdade que, quando duas línguas convivem por muito tempo, pode haver mudanças nas duas, por causa desse convívio. Como é que isso acontece?
Essas mudanças acontecem porque em qualquer comunidade bilíngüe sempre há pessoas bilíngües. Às vezes, como já vimos, muitas pessoas são bilíngües numa comunidade. As mudanças lingüísticas começam nos cérebros e na fala dessas pessoas bilíngües. Isso acontece por vários motivos, mas podemos apontar dois.
Primeiro, as pessoas bilíngües podem não ser igualmente proficientes nas duas línguas, como já vimos. Quando uma pessoa está falando uma língua que não conhece perfeitamente bem, ela nem sempre se limita a falar só aquilo que sabe falar bem na segunda língua (às vezes é muito pouco!); muitas vezes ela quer falar uma coisa e inventa uma maneira de falar aquilo na segunda língua, baseada no seu raciocínio na primeira língua, adaptando palavras e estruturas gramaticais da primeira língua. Essa é uma estratégia comunicativa muito útil, porque às vezes funciona! Se só houver alguns bilíngües numa comunidade, esses "erros" de pronúncia e de gramática não irão ter nenhum efeito sobre a língua. Mas quando toda uma comunidade de pessoas bilíngües usa essas estratégias, algumas pronúncias "criativas" e estruturas "tortas" vão ser ouvidas com muita freqüência na segunda língua. As crianças crescendo e aprendendo essa "mistura" como sua primeira língua podem integrar essas novidades à sua gramática da língua, mudando assim a língua falada como primeira língua.
Pode parecer que qualquer contato entre línguas envolvendo pessoas bilíngües resulte necessariamente na aproximação das gramáticas das duas línguas. Mas isso não acontece! Existem outros fatores que influenciam esse processo de mudança da gramática de uma língua que vamos estudar mais tarde.
A segunda fonte de interferência na fala de uma pessoa bilíngüe é consciente. Como a pessoa bilíngüe tem acesso a dois vocabulários, às vezes ela pode achar que a palavra na língua que está falando não expressa exatamente o que quer dizer, mas que uma palavra em outra língua, sim, expressa sua idéia perfeitamente. Se ela está falando com outras pessoas bilíngües, ela pode usar a palavra da segunda língua no meio da sua fala e continuar sendo perfeitamente compreendida. Esse fenômeno pode resultar em empréstimos, como vamos estudar na Unidade 4.