Isso acontecia porque antigamente quem estudava as línguas estudava textos escritos, tanto das línguas "vivas", como francês ou inglês ou português, quanto de línguas "mortas", como latim, ou grego ou sânscrito. A língua escrita é mais fácil estudar, porque ela fica parada no papel. Você pode ler e reler e voltar a estudar novamente. É assim que descobriram que as línguas mudam através dos séculos: comparavam a forma de escrever em 1800 com a forma de escrever a mesma língua em 1500 e viam que eram diferentes. Mas em cada época, a maneira de usar a língua na escrita era bastante padronizada, comparada com a fala. Os textos eram geralmente escritos por homens adultos cultos das classes mais favorecidas, e geralmente sobre determinados assuntos. Os textos não retratavam a variedade de usos que as pessoas comuns faziam da língua no seu dia-a-dia (Veja nota 1) Era muito difícil estudar a língua como ela é usada na forma falada, no uso de todo dia, porque ela não é fixa. Ela some da memória em poucos instantes. É quase impossível lembrar exatamente como uma coisa foi dita. Nós lembramos o sentido mas não exatamente a forma. Isso só começou a mudar a partir da invenção do gravador (e depois, da filmadora). Hoje em dia é fácil gravar a língua em uso e ter um registro que pode ser estudado com tanto cuidado e rigor quanto qualquer texto escrito. A sociolingüística e o estudo da variação lingüística dependem da tecnologia de gravação. Outro motivo de reconhecer mais facilmente a variação entre as línguas do que a variação dentro das línguas é que as variações entre as línguas podem ser muito grandes. Duas línguas podem parecer completamente diferentes uma da outra. Diferentemente, a variação dentro de uma mesma língua pode ser mais sutil, e pode passar despercebida. Muitas vezes, nem notamos as variações. Ou melhor: notamos as variações inconscientemente, mas não conscientemente! A sociolingüística estuda a língua em toda a sua variedade. Ela considera a variação lingüística um fato que deve ser explicada: Quais são as formas de variação? Quais são as causas da variação? Quais são as funções de tanta variação nas línguas? Qual é a relação entre essa variedade e o uso social que é feito da língua?
(Veja a nota) Existem importantes exceções. O livro Os Contos da Cantuária, escrito em inglês no século XIV, imita regionalismos e particularidades da fala dos contadores das histórias.