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Sociolinguistica_L8B8






1.10 Línguas padrão

Existe um outro aspecto da distinção entre dialeto e língua que ainda não mencionamos. Falamos que cada dialeto é uma língua, do ponto de vista lingüístico (mas não necessariamente do ponto de vista político ou social), porque cada dialeto é completo, como qualquer outra língua. Mas isso também significa que cada língua é um dialeto?
A resposta a essa pergunta é bem complicada. A resposta é: Sim e não!
Quando se diz "Os Beatles falam scouse, um dialeto do inglês" (veja nota), estamos comparando a fala dos Beatles com o quê? Nessa sentença, a palavra "inglês" não quer dizer todo o conjunto de dialetos relacionados com "inglês" que existem no mundo. Isso seria uma interpretação bem "lingüística". Para um lingüista, os Beatles falam um dos muitos dialetos do inglês, o dialeto chamado "scouse". Mas, popularmente, o que queremos dizer com essa sentença é que os Beatles não falam o inglês padrão.
O inglês padrão é uma variedade do inglês, como o alemão padrão é uma variedade, entre muitas outras, do alemão, e o italiano padrão é uma das muitas variedades do italiano. Isso, do ponto de vista do lingüista. Mas do ponto de vista popular (e político), o inglês padrão é o inglês, o alemão padrão é o alemão, e o italiano padrão é o italiano. As outras variedades – os dialetos – são apenas "dialetos". É por isso que a palavra "dialeto" tem um sentido pejorativo. Nesse sentido popular, um "dialeto" nunca é tão bom (socialmente) quanto a língua padrão. Falar um "dialeto", e não a língua (quer dizer, a língua padrão), é uma espécie de deficiência da pessoa.
Quando vamos para uma escola aprender inglês, não queremos aprender qualquer dialeto do inglês. Queremos aprender sempre o inglês padrão. Um americano nos Estados Unidos querendo aprender o português vai querer aprender o português padrão. Não vai querer aprender o caipira, um dialeto do interior de São Paulo.