Até agora, temos falado de línguas como se não houvesse problema nenhum em identificar o que é uma língua, ou como distinguir uma língua de outra. Mas isso não é verdade. É uma outra idealização. E como nós vamos ver, essa idealização tem uma base mais política do que científica.
1.7 Regionalismos Já vimos muitos exemplos de variação regional. No curso de Introdução aos Estudos Lingüísticos vocês compararam sinais icônicos de várias regiões do Brasil. No curso de Fonética e Fonologia, vocês viram como as pessoas reconhecem "sotaques", ou pronúncias diferentes, na fala de pessoas de outras regiões do mesmo país. Quando as diferenças entre o jeito de falar de uma região e outra são poucas, podemos chamar essas maneiras diferentes de falar "falares". Quando as diferenças são numerosas e sistemáticas, e atingem não só a pronúncia e o léxico, mas também a gramática, podemos chamar as variedades regionais "dialetos".
1.8 Dialetos A palavra "dialeto" é uma palavra problemática para a lingüística. Ela é usada popularmente para designar uma língua de segunda classe, uma espécie de sub-língua. Quando ouvimos que uma pessoa "fala dialeto", quer dizer que a pessoa "não sabe falar corretamente", ou que fala uma versão da língua meio esquisita, da região rural, típica de pessoas que não foram à escola. Esse uso popular da palavra "dialeto" é pejorativo. A sociolingüística não usa a palavra "dialeto" nesse sentido pejorativo. Para a sociolingüística, "dialeto" quer dizer, simplesmente, uma variação regional. É importante notar que o uso técnico da palavra quer dizer uma variação regional, e não outros tipos de variação, que têm outros nomes. Mas, mesmo assim, mesmo com essa definição técnica, e mesmo para a sociolingüística, é difícil definir exatamente o que é um dialeto.