Primeiramente, para tratar das exigências sintáticas de formação das sentenças, vamos retomar aqui a discussão feita nas unidades 3 e 4 a respeito das diferenças entre verbo e nome. Verbos e nomes têm distribuição diferente nas línguas, como você pode facilmente constatar nos exemplos abaixo:
(48) a João comprou um carro na semana passada. b *João a compra um carro na semana passada.
(49) a. A compra do carro foi feita na semana passada. b. *A comprou do carro foi feita na semana passada.
As sentenças (48) e (49) descrevem uma cena de compra de um carro. Em (48a) o verbo comprar estabelece um evento de compra entre os sintagmas nominais João e um carro. O verbo comprar é o predicado da sentença, por exigir a presença de dois participantes para comporem a cena. Os itens selecionados (ou impostos) são chamados de argumentos; é como se o verbo possuísse lacunas que deveriam ser preenchidas por argumentos. Essas lacunas são chamadas de lugares. No exemplo (48a), os sintagmas João e um carro são argumentos do predicado comprar. O lugar do argumento João e o lugar do argumento um carro são imposições sintáticas do predicado comprar, um verbo de dois lugares. O que equivale a dizer que é impossível montar uma sentença com o verbo comprar sem colocar dois sintagmas do tipo João, um comprador, e um carro, a coisa comprada.