Consideremos agora verbos de um lugar, como em (56), no que segue. As perguntas que poderíamos fazer são as seguintes: • Como explicar, então, os verbos monoargumentais? • O argumento selecionado por esse predicador é interno ou externo?
(56) a. João correu b. João chegou/Chegou João
Muitos autores já mostraram que predicados como correr e predicados como chegar, apesar de serem considerados verbos de um lugar, apresentam argumentos de natureza diferente. Enquanto o verbo correr seleciona um argumento externo, o verbo chegar seleciona um argumento interno. Essa distinção está diretamente relacionada aos papéis dos participantes da cena (de agente e de tema, respectivamente) e aos traços impostos a cada um dos argumentos, como no exemplo (57) e no exemplo (58):
(57) a. João correu a corrida de São Silvestre b. *A encomenda correu
(58) a. *João chegou a chegada triunfal b. A encomenda chegou
Enquanto (57) permite um objeto cognato, mas não permite um argumento [-animado]; (58) não permite cognato (pelo menos não irrestritamente) e admite argumento [-animado]. Essas diferenças podem nos levar a confirmar a existência de duas classes de verbos monoargumentais: a classe dos verbos intransitivos (já legitimada pela gramática tradicional) e a classe dos verbos inacusativos.