Esta distinção entre as duas classes de monoargumentais, intransitivos e inacusativos, pode ser explicada em termos de seleção de argumento: no primeiro caso, o argumento selecionado é externo e no segundo caso é interno. Enquanto o primeiro verbo pode ser potencialmente um transitivo (com a possibilidade de objeto cognato), o segundo não pode gerar um objeto cognato, pois a posição do argumento interno já está ocupada. Se verbos conhecidos como intransitivos seguem padrões dos verbos transitivos, ou seja, podem projetar um argumento interno, na verdade poderíamos dizer que eles são transitivos potenciais. Além do número de argumentos definidos pelos itens lexicais (núcleos), que estamos chamando aqui de predicados, há tipos de argumentos específicos para se combinar com os núcleos. Por exemplo, no caso do verbo comprar, o predicado exige que um de seus argumentos (o externo) seja capaz de fazer referência a algum comprador, como os exemplos em (59), abaixo, ilustram:
(59) a. João comprou um carro b. *A mesa comprou um carro
João, em (59) é marcado por traços semânticos [+animado] que o distingue de mesa [-animado]. Dizemos, então, que um verbo como comprar exige que seu argumento externo seja [+ animado].