Evidências sintáticas nos mostram que, numa construção transitiva, é o argumento interno que se junta primeiramente ao verbo, ocupando a posição de complemento. O núcleo e o complemento, juntos, vão impor restrições ao segundo argumento denominado externo. A posição ocupada pelo argumento externo é chamada de especificador. Nesse caso, dizemos que argumento interno ocupa a posição de complemento e argumento externo ocupa a posição de especificador. De modo geral, podemos dizer que são internos os argumentos que figuram como objetos e externos os argumentos que figuram como sujeitos das sentenças. Na verdade, o que se conhece como sujeito e como objeto é resultado de uma configuração estrutural. Objeto direto é o constituinte que ocupa a posição de complemento do verbo e sujeito é o constituinte que ocupa a posição de especificador. Além disso, é importante ressaltar que o núcleo se relaciona assimetricamente com o especificador e simetricamente com seu complemento Veja esquema X-barra no exemplo 40 . Vamos discutir um pouco agora essa simetria/assimetria. Consideremos para tanto outras cenas, como em (53):
(53) a. João quebrou a perna na última semana b. João quebrou o vaso na última semana
Em (53), parece claro que o predicado quebrar é um verbo de dois lugares (seleciona dois argumentos), entretanto, enquanto as restrições impostas para o argumento interno são fornecidas pelo verbo, as exigências/restrições para o argumento externo necessariamente precisam ser dadas pelo composto [verbo+argumento interno]. Evidências sintáticas nos mostram que é o argumento interno que se junta primeiramente ao verbo, formando o sintagma verbal (SV). Só depois é que o SV vai impor restrições ao outro argumento (o externo). O papel que o argumento externo vai receber em (53) de ator ou de objeto afetado, por exemplo, é conseqüência direta do resultado da composição [quebrar a perna] ou [quebrar o vaso]. Retomaremos esses exemplos na próxima seção, quando discutiremos as exigências semânticas dos predicadores.