O fato de esses prefixos serem recorrentes nos permite identificar relações paradigmáticas formadas no léxico, com base nas quais os falantes reconhecem estrutura interna nas palavras. Parece claro, por exemplo, que os conjuntos de palavras em (4a) e (4c) são familiares aos falantes de português, enquanto os em (4b)nÃo são
Observemos primeiramente que des- satisfaz às exigências da nossa definição mais estrita de prefixo: é uma forma presa que não tem alomorfe livre, é recorrente na língua, aparece sempre afixado à esquerda de bases livres e tem sistematicamente o mesmo significado, que é o de reversão. Notemos agora que todas as palavras em (4a) são verbos, alguns primitivos, outros já formados por derivação (como mobilizar). Por outro lado, as palavras em (4b) pertencem a outras classes: feliz é um adjetivo, movimento e pessoa são substantivos derivado e primitivo, respectivamente, e em nenhum desses casos a prefixação com des- é possível. Por outro lado, (4c) apresenta casos em que temos substantivos e adjetivos prefixados por des- e ainda assim tudo vai bem. Em que (4c) é diferente de (4b)? Se você olhar detidamente para as formações em (4c) você verá que todas elas são palavras derivadas que tiveram como base o verbo presente em (4a). Você já deve ter percebido a conclusão a que estamos querendo chegar: o prefixo des- só se combina com verbos na língua. E já que ele é produtivo, como mostra a possibilidade de fazermos a palavra (?) desclonar que aparece em (4a), para além da RAE (lembrando: regra de análise estrutural) que nos permite analisar a estrutura interna dessas palavras, temos uma RFP (uma regra de formação de palavra) para des- na língua que deve ter o formato que se vê em (5)