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Morfologia
Vale a mesma observação para o sentido de -ada que temos em (8c): o conjunto de candidatos a base é muito reduzido (tem que ser um instrumento de alguma coisa) e é bem estranho dizer que o Zorro, com poucas ?espadadas, assinou o nome na parede, como diríamos que o pintor, com poucas pinceladas, retratou a modelo perfeitamente.
Na verdade, se espadada, conchada ou escumadeirada são formações possíveis em português, elas o são com a interpretação que temos em (8d), “ferimento ou golpe”:

(10) a. O Zorro deu uma espadada na cabeça do sargento Garcia
b. A minha mãe deu uma escumadeirada/uma conchada na minha mão.

Esta é uma formação extremamente produtiva no português brasileiro atual, sobretudo em certas construções com o verbo dar, cujo formato geral seria dar uma X-ada (em Y), onde X é um substantivo concreto. A RFP desta formação deve portanto tomar um substantivo concreto e fornecer como produto um substantivo que é interpretado como um ferimento ou um golpe dado pelo instrumento referido pelo substantivo concreto que é a base – uma dentada é um ferimento feito com os dentes. É preciso dizer ainda que essa RFP é acionada pelas construções com dar do tipo acima.
Com o sentido de “produto alimentar ou bebida”, é difícil dizer se -ada é produtivo; no entanto, com o sentido de “comilança ou festa”, parece que é: eu posso fazer uma peixada/uma galinhada/uma ovelhada lá no meu sítio e convidar os amigos. No entanto, observe que pesa sobre a base uma restrição bem forte, porque aparentemente apenas nomes de animais comestíveis podem ser a base para esta RFP.