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Morfologia






Mas como é que distinguimos um tempo do outro se ambos são marcados pelo morfema ø? Observe que teríamos o mesmo problema se o morfema em questão tivesse forma fonológica: com a mesma forma usada em ambas as palavras, como distingui-las? A resposta que Camara Jr. tem para este problema é genial: este autor defende que estes dois morfemas ø são diferentes porque eles determinam alomorfias diferentes nos morfemas que estão ao lado de cada um deles. Tomemos a 1a pessoa do singular, por exemplo: o morfema ? de presente do indicativo determina o alomorfe ø (outro!) da vogal temática que o precede e a forma -o para o morfema número-pessoal que o segue, resultando na forma eu canto (a análise dela seria cant-ø-ø-o). No pretérito perfeito, por outro lado, a vogal temática da 1a conjugação deve tomar um alomorfe que é -e- e a forma do morfema número-pessoal é -i, resultando na forma verbal eu cantei (a análise dela seria cant-e-ø-i).
Bem imaginativo, né? Raciocinando assim, Mattoso Camara Jr. consegue manter a hipótese de que todas as formas verbais do português partilham a mesma fórmula geral – os espaços que aparecem não preenchidos nas formas são na verdade ocupados por morfemas ø.