Vamos começar a discussão sobre a morfologia verbal examinando (25):
(25) (nós) cantávamos (aos sábados).
A interpretação dessa frase é que nós – isto é, eu e mais alguma(s) pessoa(s) – executamos a ação de cantar no passado e, ainda, que isso era uma coisa que acontecia regularmente, aos sábados, por exemplo. Deixemos de lado por agora o fato de esta ser uma ação regular; voltaremos a isso no final da nossa discussão. Aqui, o importante é que os elementos que estão entre parênteses em (25) podem não estar presentes na frase e ainda assim a interpretação é a de que um grupo de pessoas que me inclui executou a ação de cantar no passado. Portanto, essas informações estão presentes na forma verbal em si, podendo ser reforçadas ou detalhadas por outros elementos da sentença como "nós" e "aos sábados". Vê-se imediatamente que a forma cantávamos é morfologicamente complexa, porque conhecemos as formas cantei, cantaremos e várias outras que estão no paradigma em (2). Mas como determinar exatamente quais são os morfemas que a constituem? Se você retomar o começo deste material, lá está a idéia: trata-se de uma técnica desenvolvida pelos lingüistas estruturalistas, a técnica dacomutação Quer ver como funciona essa técnica Observe (26) : Vamos começar com (26a): podemos afirmar que o que responde pela informação de "nós" em cantávamos é o morfema -mos, porque quando trocamos este morfema por outro, o morfema -m, por exemplo, o que resulta na forma cantavam, a informação agora é eles (ou elas) executaram a ação de cantar no passado; e se não temos nada com matriz fonética ali, como na forma cantava, a informação veiculada pode ser de que ele ou ela executou a ação de cantar no passado, certo? Portanto, -mos, -m e ø, isto é, o nosso velho conhecido morfema zero, são responsáveis pela informação relativa a quem executa a cantoria.