Agora, finalmente, a passagem revela um sentido claro e unificado. Isso porque as palavras se combinam numa ordem adequada, os sinais são realizados de maneira ritmada, e toda a expressão corporal é empregada pelo sinalizador. Essa passagem foi produzida num contexto em que dois amigos surdos conversavam, e um deles argumentou que na sua escola havia sim intérprete, pois um amigo ouvinte sempre se voluntariava a ajudar o grupo de surdos da classe. O outro surdo da conversa não concordou com essa opinião, e questionou a idéia produzindo a frase (6), em que faz um contraste entre a idéia de um “aluno que está seu ao lado” e a idéia de um “intérprete que se senta à frente”. Para esse surdo, as duas idéias são opostas: um aluno não pode ser um intérprete e é preciso saber separar as coisas.
Vimos que, no português, o acento (uma mudança no modo de usar a voz) é colocado na sílaba “POR” de “esPORte”, chamando a atenção do interlocutor para a palavra “esporte” e fazendo um contraste com a idéia da frase anterior, “violência”. A libras, contudo, possui outros recursos gramaticais para expressar contraste entre idéias. Um desses recursos pode ser visto na passagem (6): o deslocamento do tronco para trás e para frente. Nessa passagem, o movimento do tronco para trás ocorre durante os sinais UM ALUNO NÃO, agrupando-os como uma idéia coesa; e o movimento do tronco para frente ocorre durante os sinais INTÉRPRETE SENTAR CERTO, agrupando-os como outra idéia coesa; o contraste físico entre o deslocamento do tronco para trás e para frente representa o contraste conceitual entre as duas idéias.