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Leitura e Produção deTextos






Vamos, então, considerar um outro exemplo:

(11) Meu amor me ensinou a ser simples
Como um largo de igreja
Onde não há nem um sino
Nem um lápis
Nem uma sensualidade

A seqüência lingüística acima exige muita cooperação por parte do receptor para que ela seja vista como um texto. Embora haja uma clara unidade de sentido entre “amor” e “sensualidade”, entre “igreja” e “sino”, é difícil extrair um sentido unitário para idéias tão desconexas quanto “amor”, “largo de igreja” e “lápis”. Quando descobrimos que essa seqüência é um poema intitulado Ditirambo, produzido pelo famoso poeta modernista brasileiro Oswald de Andrade, a atitude do receptor em relação ao texto, isto é, a sua aceitação, pode mudar. Isso porque sabemos que faz parte do gênero poético modernista deixar os sentidos implícitos, usando menos recursos coesivos e deixando partes essenciais do sentido do texto para o leitor construir por si só, por meio de inferências. Os leitores que gostam de poesia modernista sabem dessa sua “difícil tarefa”, de ter que penetrar em sentidos do texto que não foram explicitados pelo autor. Por isso, esses leitores aceitam a poesia moderna com prazer. Outras pessoas que não gostam de poesia moderna podem descartar essas poesias como se elas não tivessem nada para comunicar – como se não fossem textos. Essa reflexão mostra que a discussão sobre uma seqüência ser ou não um texto pode ser altamente subjetiva em alguns casos.