Outro sentido que extraímos do texto em (8) é a seqüência temporal dos eventos. Nós entendemos que primeiro aconteceu o evento da primeira frase (O bebê chorou) e, num segundo momento aconteceu o evento da segunda frase (A mãe pegou-o no colo). Além disso, nós entendemos que a mãe pegou o bebê no colo logo depois que o bebê começou a chorar, e não, por exemplo, horas depois. Novamente, essa informação não está no texto. Para que a informação estivesse no texto, a segunda frase deveria trazer algum elemento coesivo, como por exemplo: “O bebê chorou e, em seguida, a mãe pegou-o no colo”, explicitando a seqüencialidade temporal dos eventos. Mas mesmo sem esse recurso coesivo, nós conseguimos inferir essa relação temporal.
Essa relação temporal pode ser inferida em grande parte porque estabelecemos uma outra relação entre as frases: a relação de causalidade. Essa relação também não está definida no texto, mas isso não impede que possamos interpretar uma relação de causa/conseqüência entre os eventos da primeira frase (O bebê chorou) e da segunda frase (A mãe pegou-o no colo). Nós entendemos que a mãe pegou o bebê porque o bebê chorou. Isso torna os dois eventos relacionados causal e temporalmente. Para que a relação causal fosse dada pelo próprio texto, ele deveria ser reescrito com algum elemento coesivo como: ?O bebê chorou e, por causa disso, a mãe pegou-o no colo?. Mas mesmo sem esse conectivo de coesão, nós conseguimos estabelecer essas relações por meio de processos cognitivos de inferência . .
Inferência é um processo cognitivo que fazemos diariamente. Nesse processo, duas coisas que não têm relação explícita são relacionadas cognitivamente por intermédio do nosso conhecimento de mundo. No exemplo do texto, nosso conhecimento de mundo diz que, quando um bebê chora, é comum que a sua própria mãe o pegue no colo, pois cada mãe é a principal responsável por seu bebê. Nós usamos, então, esse conhecimento de mundo para relacionar a mãe ao bebê, mesmo que no texto esses dois elementos não estejam explicitamente relacionados.
Há vários tipos de inferência, como por exemplo: a) partes do todo: Ontem eu comprei um carro, mas ele está caindo aos pedaços. O pneu está toda careca. O volante é duro e gira com dificuldade. O espelhinho está quebrado. Os bancos estão furados. (Nessa inferência, sabemos que o pneu, o volante, o espelhinho e os bancos pertencem ao carro comprado); b) capacitação: Ele largou o carro aberto na rua e alguém roubou (nessa inferência, sabemos que deixar o carro aberto possibilitou que um ladrão o roubasse); c) propósito: João foi na farmácia para ver se melhorava da gripe (nessa inferência, sabemos que a farmácia é um lugar que oferece remédios para as pessoas melhorarem de suas doenças).