No que respeita à função desse gênero, acreditamos que contracapas podem ser encontradas em várias culturas e que sua intenção deva ser basicamente a mesma: apresentar características de certo produto (nesse caso um livro) de maneira atraente, para que o consumidor sinta vontade de adquiri-lo. De modo geral, em termos de função, espera-se que uma contracapa contenha informação sobre o conteúdo do livro (no caso de contracapa de livros, sem revelar o seu enredo. Dessa maneira, supõe-se que a contracapa de um livro propicie aos(às) leitores(as) um panorama dos seus elementos principais, porém de modo um tanto obscuro, promovendo, assim, o desejo de lê-lo. O gênero contracapa pode também explorar características acerca do gênero do livro que está apresentando. No caso da série de Harry Potter, os romances que a compõem são híbridos na medida em que integram, pelo menos, quatro diferentes gêneros comuns às histórias infantis, quais sejam: fantasia extrema, fantasia comum ou doméstica, história escolar, e história de detetive/mistério. Tendo a contracapa de Harry Potter e a pedra filosofal em mente, é possível verificar a ocorrência de elementos de três desses quatro gêneros:
(1) praticar um esporte enquanto voa numa vassoura representa fantasia extrema; (2) o tipo de vida que Harry leva com sua tia, tio e primo representa fantasia comum ou doméstica; (3) o grande destino que o espera representa história de detetive/mistério.
NO CASO DE CONTRACAPA DE LIVROS No caso de Harry Potter e a pedra filosofal, a contracapa apresenta o personagem principal da série (nome, idade, com quem vive, tipo de quarto em que vive), bem como alude a experiências mágicas ainda não vividas por Harry, o que antecipa a ocorrência de experiências dessa natureza na história. Nesse sentido, a contracapa não revela o conteúdo do livro, mas sugere traços dele, apresentando-o de forma que o(a) leitor(a) queira descobrir, entre outras coisas, qual o esporte que se pode praticar enquanto se voa em uma vassoura, para que lugar o garoto está sendo convidado a ir, e que destino o aguarda etc. Outro aspecto a ser levado em consideração por ocasião da análise de uma contracapa – tendo presente a função a que se propõe tal gênero – diz respeito à sua textualização: a linguagem utilizada é geralmente persuasiva com vistas a cativar o interesse do(a) leitor(a). Quem escreve uma contracapa, via de regra, parece escolher um registro apropriado para o público ao qual se destina. Na contracapa acima apresentada, é possível verificar que a autora estabelece relações estratégicas com um público alvo que inclui leitores(as) de idade próxima a de Harry, ou, ainda, leitores(as) que apreciam temas relativos a indivíduos que se sentem desvalorizados, maltratados e esquecidos como ele, mas que se empenham para reverter tais situações.