Apresentamos, a seguir, breves comentários acerca da estrutura retórica da contracapa de Harry Potter. Nosso foco, todavia, recairá sobre aspectos da intenção ou função desse gênero. A presente análise revela que a estrutura retórica da contracapa de Harry Potter e a pedra filosofal é constituída por estágios coincidentemente semelhantes aos estágios típicos de narrativas pessoais. Vamos então à breve especificação da estrutura retórica da nossa contracapa, em que encontramos os seguintes estágios:
(1) orientação: apresentação do(s) personagem(s) principal(is), nesse caso a apresentação de Harry Potter; e do local em que a história se desenvolve (pelo menos inicialmente), a casa do tio de Harry; (2) ação complicadora: elementos de ação envolvendo o personagem principal, no caso, o mau tratamento que Harry tem recebido de sua família; (3) resolução: possivelmente a ida de Harry a um lugar maravilhoso para o qual está sendo convidado; e (4) coda: encerramento da contracapa por meio de uma sentença chamativa, impregnada de termos avaliativos ou instauradores de mistério – grande destino e sobreviver ao encontro.
O estágio de avaliação encontra-se embutido em várias partes do texto por meio de adjetivos como miserável, horríveis, abominável, minúsculo. O único estágio das narrativas pessoais que não ocorre nessa contracapa é o resumo que, por sua vez, na verdade, também não é obrigatório naquele gênero, ou seja, nas narrativas pessoais. Interpretamos essa coincidência como derivada do fato de que a contracapa de um livro como o de Harry Potter contém uma narrativa pessoal, embora vicária, isto é, contada por outra pessoa, nesse caso, J. K. Rowling.