É importante observar que os textos – associados a contextos a serem igualmente estudados – resultam, na verdade, da interação simultânea entre as quatro dimensões citadas. Assim, essas subdivisões da linguagem devem ser vistas não tanto como delimitações rígidas, mas como parâmetros organizacionais, pedagógicos e metodológicos para enfoques de pesquisas e estudos específicos. Daremos ênfase à dimensão da linguagem como comportamento. Vale enfatizar, no entanto, que todos os discursos contêm uma face como sistema, uma como conhecimento, uma como comportamento e ainda podem apresentar uma face artística. Talvez nesse sentido, possamos dizer que o discurso se complexifica ainda mais porque cada uma das escolhas nessas quatro dimensões depende do contexto, como veremos na Unidade 2. A face da linguagem como conhecimento se revela nas crenças; representações da realidade; no modo como as pessoas vêem e entendem o mundo, o seu entorno etc. Já a face comportamental se traduz naquilo que as pessoas fazem – ou querem fazer – por meio da linguagem: pedir ou dar informação ou bens e serviços, posicionar-se, persuadir etc. Finalmente, a face do discurso como arte se manifesta em muitas obras da literatura, em alguns textos da indústria da propaganda, e até mesmo em declarações de amor elaboradas com esmero. Enfim, o discurso engloba todo o enunciado que faz sentido para os interlocutores, independentemente do número de palavras, frases ou sentenças que compõem esse enunciado Assim, o discurso é concebido como uma forma de sistema, de cognição, de ação social – podendo ou não conter um viés artístico – e, como tal, é merecedor de nossa atenção e digno de uma ciência que se dedique a ele, como é o caso da Análise do Discurso.
INDEPENDENTEMENTE DO NÚMERO DE PALAVRAS, FRASES OU SENTENÇAS QUE COMPÕEM ESSE ENUNCIADO Uma simples placa de trânsito onde se lê PARE é, portanto, discurso, visto tratar-se de uso de linguagem em uma determinada situação social, cuja função é comunicar a motoristas a necessidade de parar o veículo. Na medida em que o motorista entende (linguagem como conhecimento) o comunicado e então pára (linguagem como comportamento), há interação. Desse modo, temos em PARE o uso de um termo lexical e de uma forma sintática específicos (partes da linguagem como sistema); sua compreensão envolve formas de conhecimento e de comportamento dos motoristas.