Com base nas informações que Carolina nos traz, podemos entender que o currículo de LIBRAS – L1 vai muito além do conjunto de conteúdos, metodologias, carga horária etc. Este currículo somente terá sentido real e valor como instrumento de empoderamento a partir das práticas pedagógicas vinculadas a uma postura política do professor como membro da comunidade surda e representante de sua cultura. O currículo é uma construção coletiva e devem participar desta construção todos aqueles envolvidos no processo educacional das pessoas surdas, principalmente elas mesmas e seus representantes – as associações de surdos e a FENEIS.
Como construção social, o currículo de LIBRAS deverá retratar os valores, atitudes e práticas sociais que fazem parte das experiências visuais que circulam na comunidade surda e deverá refletir, acima de tudo, a cultura e as identidades surdas. Este currículo deverá privilegiar a produção cultural, as artes, a literatura, a história, as organizações surdas, as lutas dos surdos em defesa de seus direitos. E, como tal, deve ser respaldada como política do Ministério da Educação como uma diretriz geral para o ensino de LIBRAS no país.
Um currículo é um instrumento social e político que tem por objetivo “nortear” o trabalho pedagógico e, para isso, precisa conter elementos que auxiliem as escolas a organizarem seus programas de ensino de forma eficaz. Por isso, o currículo é um instrumento que deve ser avaliado com freqüência e isso acontecerá a partir da própria prática dos professores de LIBRAS. São estes professores que, diariamente, farão os ajustes necessários redefinindo objetivos, selecionando melhor os conteúdos, aprimorando métodos de ensino e avaliação, organizando recursos didáticos mais condizentes com a experiência visual que caracteriza a cultura surda.
Para saber mais sobre o currículo na educação de surdos:
1. O currículo de Língua de Sinais e os professores surdos: poder, identidade e cultura surda, da pesquisadora Carolina Hessel Silveira, no livro Estudos Surdos II (organizado pro Ronice M. Quadros e Gladis Perlin), disponível no site www.editora-arara-azul.com.br
2. Da mesma autora, Carolina Hessel Silveira, sua dissertação de Mestrado, disponível no site www.ges.ced.ufsc.br/carol.htm
3. O direito de aprender na escola de surdos, de Maura Corcini Lopes, no livro A Invenção da Surdez II (Organizado por Adriana Thoma e Maura C. Lopes), Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2006. Este artigo traz um tópico sobre o Currículo Surdo.