A ênfase na dimensão centralizadora de uma cultura universal tem impossibilitado o aparecimento de processos culturais existentes em comunidades de surdos. Ao afirmarmos que os surdos brasileiros são membros de uma cultura surda não significa que todas as pessoas surdas no mundo compartilhem a mesma cultura simplesmente porque elas não ouvem. Os surdos brasileiros são membros da cultura surda brasileira da mesma forma que os surdos americanos são membros da cultura surda norte-americana. Esses grupos usam línguas de sinais diferentes, compartilham experiências diferentes e possuem diferentes experiências de vida. No entanto, há alguns valores e experiências que os surdos, independente do local onde vivem, compartilham, ou seja: todos são pessoas Surdas vivendo em uma sociedade dominada pelos ouvintes. (Wilcox; Wilcox 2005, p. 78).
Não visualizamos a cultura surda como algo localizado, fechado, demarcado. Ao contrário, como algo híbrido, fronteiriço. Visualizamos no sentido que Heidegger imprimiu aos locais da cultura quando considera que Uma fronteira não é o ponto onde algo termina, mas, como os gregos reconheceram, a fronteira é o ponto a partir do qual algo começa a se fazer presente. A cultura surda está presente entre nós, se apresentando talvez como um desejo de reconhecimento, em que busca um outro lugar e uma outra coisa, imprimindo outras imagens e outros sentidos daqueles até então existentes ou determinados pela cultura ouvinte.