Proporção de uso da produção verbal com e sem flexão
Os dados ilustram o tipo de argumentos nulos que aparece na produção das crianças. Os chamados verbos manuais aparecem com bastante freqüência na produção das crianças. Esses verbos incorporam o objeto licenciando a sua omissão. Nesses casos, a omissão do objeto foi contada na categoria dos verbos com concordância, uma vez que o objeto nulo é licenciado pela gramática do adulto sob as mesmas condições (ver Quadros e Karnopp, 2004 para mais detalhes). Os sujeitos omitidos com verbos simples estão sendo identificados por fatores contextuais. Quando o contexto não está claro, neste tipo de exemplo não há como identificar os referentes. A seguir será ilustrado este caso:
A inexistência de IOs observada é consistente com a generalização de que contextos de sujeitos nulos não resultam em IOs. As análises desenvolvidas até aqui confirmam que as crianças surdas fixam o parâmetro muito cedo, apresentando evidências de que as categorias funcionais estão acessíveis na gramática da criança.
Uma questão que merece atenção é o fato da concordância na língua de sinais brasileira ser obrigatória com o objeto e não com o sujeito. Rathmann e Mathur (2002) observaram o mesmo fenômeno na língua de sinais americana. No desenvolvimento da teoria gerativa estabeleceu-se que a GU contém o Princípio de Projeção Estendido, que determina a existência da posição de sujeito em todas as línguas. Entretanto, esse princípio não afirma que tal posição deva ser foneticamente preenchida. Assim, algumas línguas (italiano, espanhol, língua de sinais brasileira, por exemplo) apresentam a possibilidade de terem sujeitado sem matriz fonética, isto é, sujeitos nulos. Na língua de sinais brasileira, com verbos com concordância temos pro, mas com verbos simples temos PRO (Quadros, 1995), ou seja é uma língua de sujeito (e o objeto) nulo com verbos com concordância. A questão é a seguinte, toda linha argumentativa da fixação do parâmetro e do estágio de IO está pautada na relação com as línguas que têm e não têm sujeitos-nulos relacionadas com a marcação da concordância. Nossas investigações indicam que não é necessariamente o sujeito nulo que determina a marcação do parâmetro e do estágio IO, mas o objeto, uma vez que a concordância é obrigatória com este último na língua brasileira de sinais.