Uma situação semelhante é encontrada nos países de língua árabe. A variedade escrita foi padronizada no século VIII, baseada no texto sagrado do Alcorão, e tem se mantido relativamente estável desde então. É a língua literária para todo o mundo árabe. A língua falada é outra coisa. A língua oral nunca foi prestigiada ou ensinada nas escolas. Ela se desenvolveu de maneira diferente em cada local, formando diferentes dialetos do árabe. Os dialetos falados no Egito, no Marrocos, no Líbano e no Iraque são muito diferentes, mas todo mundo que vai para a escola aprende também a falar e escrever o árabe moderno padrão, que até hoje continua muito próximo ao árabe clássico e que serve como língua franca para todos os povos árabes. O mesmo conceito de diglossia pode também ser aplicado a situações semelhantes, em que duas línguas diferentes são usadas para as duas funções, alta e baixa. Essas situações chamam-se diglossia com bilingüismo, e já vimos dois exemplos neste curso. O primeiro exemplo foi o uso do francês normando na Inglaterra, durante os 300 anos após a conquista de Guilherme, no século XI. O francês era a língua do governo e da igreja, e qualquer pessoa nativa de língua inglesa que queria participar da vida "oficial" do país tinha que aprender o francês. Um exemplo contemporâneo é o caso do espanhol e o guarani no Paraguai, que já estudamos. Nesse caso, o espanhol serve para as funções públicas da escola, do governo e da alta cultura, e o guarani serve para as funções familiares e comunitárias. Deve-se ter em mente que, mesmo nos casos de diglossia, cada variedade ou cada língua usada como variedade alta ou baixa mantém muita variação interna, o que possibilita a mudança de registro dentro da variedade. Ou seja, usando a variedade alta (ou a variedade baixa), a pessoa pode ser mais ou menos formal, de acordo com a situação específica.