Um dos fatos sociolingüísticos mais bem estabelecidos é que as pessoas julgam as qualidades pessoais de outras pessoas baseadas em sua pronúncia, seu sotaque. Desde os anos de 1970, muitas pesquisas têm sido feitas mostrando isso. Como é que essas pesquisas são feitas? A idéia é a de ver o efeito do sotaque, que inclui a pronúncia e a entoação sobre a impressão que o falante cria nos seus interlocutores. Por isso, é necessário eliminar diferenças de vocabulário e de estruturas gramaticais. Para isso, é necessário que todos os falantes repitam o mesmo texto. As gravações do texto são feitas e depois tocadas para informantes, que devem marcar num papel, para cada gravação, suas impressões sobre o tipo de pessoa que estava falando. Os informantes escolhem as palavras que melhor descrevem a pessoa, ou indicam características (como o grau de "honestidade") numa escala.
Os resultados são muito claros: pessoas que falam com sotaques da variedade considerada "padrão", típica dos centros urbanos, são consideradas mais competentes, autoconfiantes, bem informadas, inteligentes, lógicas, justas, felizes, aplicadas, ambiciosas e até mais bonitas do que as pessoas que falam com sotaques regionais. E não é porque elas expressam idéias melhores; é só porque elas têm um certo sotaque. Isso é verdade mesmo quando são as mesmas pessoas que estão falando com os dois sotaques. Por exemplo, uma pessoa fala primeiro de um jeito e depois de outro (porque sabe falar as duas variedades). A primeira vez, quando ela fala na variedade padrão, ela é julgada mais inteligente; quando ela fala na variedade regional, é considerada menos inteligente. A mesma pessoa. Será que a pessoa ficou menos inteligente quando mudou de sotaque? Claro que não! Mas a impressão que causa nas outras pessoas é essa.