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Sociolinguistica_L8B8






2.5 Línguas crioulas

Vamos imaginar outro cenário: vamos imaginar uma comunidade em que a língua franca seja uma língua pidgin. Essa língua não é a língua materna de ninguém. É um registro simplificado, com um vocabulário limitado e pouca gramática, que varia de falante para falante, dependendo da língua materna do falante. Imagine, então, nessa comunidade, que um homem de língua materna X casa com uma mulher de língua materna Y, e eles começam a criar uma família. Que língua você acha que eles vão falar em casa? Pidgin. Os filhos deles vão crescer ouvindo pidgin o tempo todo. Quando os filhos começam a brincar com outras crianças na rua e no mercado, qual língua eles vão usar? Pidgin. É a língua franca da comunidade; é o que todo mundo fala.
Mas essas crianças não vão adquirir pidgin como sua primeira língua. Por quê? Porque pidgin não é a língua materna de ninguém. É uma língua sem uma gramática estabelecida. É muito variável. Só serve para uma comunicação mínima. Mas as crianças precisam ter uma primeira língua. Todo mundo precisa ter uma primeira língua. As crianças precisam pensar tudo sobre o mundo na sua língua materna e, para isso, um pidgin não serve. Então o que é que essas crianças vão fazer? De onde elas vão tirar sua primeira língua?
A resposta é surpreendente. Elas inventam uma nova língua. Elas gramaticalizam e regularizam a língua pidgin que seus pais e seus vizinhos falam. Seus pais e seus vizinhos falam pidgin como segunda língua, mas para eles, essa língua tem que ser sua primeira língua, então eles modificam a língua para ser mais completa, mais gramatical, mas expressiva. Esse processo, chamado crioulização, ainda é um grande mistério, mas é bem documentado. Essas línguas que são faladas como primeira língua e que nascem em comunidades que usam pidgin como uma língua franca chamam-se línguas crioulas. E são sempre mais regulares e mais gramaticais do que os pidgins. Como as línguas crioulas têm falantes nativos, elas são línguas naturais, como qualquer outra língua natural. Não são mais "línguas de contato" ou "registros simplificados". São línguas de verdade.